Isto é só a ponta do iceberg...
ler mais
Nessa altura, a stora de Desenho ir substituir o careca de Francês era uma coisa impensável! Nem a stora de Desenho estaria disposta a isso!
Com o tempo, as coisas foram mudando. Os Professores começaram a fazer trabalho de secretaria, cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais... E o Pessoal Auxiliar foi diminuindo cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais...
Não me espanta, portanto, esta história das aulas de substituição! Não há Pessoal Auxiliar para tomar conta dos putos, portanto os ditos putos não podem ir para o recreio. Se não podem ir para o recreio, têm de ficar na sala de aula. Mas, se ficam na sala de aula, quem toma conta deles? Os camelos dos Profs, sem dúvida! É tudo uma questão de economia!
Eu varro o meu pátio e lavo o chão da minha cozinha, não me caem os parentes na lama por isto! Contudo, antevejo o dia em que serei despedido por me ter recusado a lavar o chão da sala onde dei aula ou a varrer a entrada do pavilhão...
Antevejo, também, muitas outras situações surrealistas. Estou sentado, na sala de Professores, dormitando um bocadinho (tenho oitenta anos de idade e, ainda, me faltam dez para a reforma), entra o delegado de turma do 10ºC, abana-me e grita-me ao ouvido «Stor Fóssil! Faltou o Carlitos, o nº 7. O stor tem de substitui-lo, senão a aula de Matemática não pode começar... são precisos quarenta alunos!». Ou então, mais agradável, ser chamado ao Conselho Executivo, porta fechada, alto secretismo, uma trintona de mini-saia, e a Presidente «Caro Fóssil, esta senhora é a mãe da Mariana do 10ºC. O marido dela é um pai ausente... quer substituí-lo?». «Na cama?!».
A ausência dos pais não justifica a estupidificação dos Professores! A Escola não é a Casa Pia! Os Professores não são amas-secas, nem psicólogos, nem polícias dos alunos. Os Professores são Professores! Sem Professores, não há Ensino!
Enquanto aluno, nunca tive aulas de substituição e não foi por isso que não completei os meus estudos, uma licenciatura (de cinco anos!), inclusive. Claro que fracturei um braço e tenho duas ou três cicatrizes (de queda, ou pedrada) no corpo, mas esse foi o meu papel... ser puto!
Claro que fumei as minhas ganzas, e mantenho o vício do tabaco. Só falta que alguém me diga que foi por não haver aulas de substituição...
Organizem-se! Dêem aos pais a possibilidade de serem pais! Dêem aos Professores a possibilidade de ensinar, sem constrangimentos! Dêem aos desempregados um emprego, contratando funcionários para as escolas! Gastem dinheiro com a Educação!
A Educação não é um negócio! É um investimento nacional!»
Etiquetas: Educação
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que, em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Num' hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um' hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Luís de Camões
Grupo de professores reclama anulação de concurso
Cento e quinze docentes da Escola Secundária Eça de Queirós escreveram à ministra da Educação e ao Presidente da República. Em causa, critérios de avaliação de desempenho no concurso de acesso a professor titular.
(…)
Foi numa reunião que a ideia da carta surgiu. “Decidimos que não devíamos receber de braços abertos o decreto” que regulamenta o concurso de acesso a professor titular. A exposição acabou por ser assinada por 115 dos 162 professores da Eça de Queirós. O documento, que ainda não obteve resposta da ministra da Educação, foi enviado em meados deste mês. “Será que o insucesso escolar passa pelo mau desempenho das escolas? Não passa por aí”, conclui Maria Eduarda Luz.“Em muitas escolas, os professores fazem milagres.” É desta forma que termina a carta que coloca várias interrogações. “Será que o mérito só conta a partir de 1999?”. “Será que a função principal do professor não é ensinar/educar? E o futuro?”. “A distinção, estranha, entre professor e professor titular vai desmotivar os professores e trazer graves problemas à organização e consequente funcionamento das escolas”, acrescenta-se. Os docentes vincam a sua posição: “Acreditamos que a melhoria do ensino só é possível dignificando a carreira docente, mobilizando os professores, os alunos, os pais e restante comunidade educativa.” (Educare)
Etiquetas: Ensino